Olá, Escrevo-lhe hoje algumas palavras. Palavras que dedico ao lado menos visitado. Palavras necessárias para entendermo-nos num todo. Um modo de refletirmos no mundo, nos outros e assim com mais espaço e menos defesas para refletirmos sobre nós. Escrevo-lhe hoje dando espaço àquilo que ninguém quer dar. Mas é vivida. Ela existe. Ela é parte de nós, ela está em nós. Em boa verdade, ela faz falta, pertence-nos, necessitamo-la, e ao elaborá-la ficamos mais fortes, mais seguros e mais organizados mentalmente. Escrevo-lhe hoje sobre tristeza.Vivemos tempos de felicidade. Não há espaço para tristezas. Não é cool estar triste, não é suposto estar triste num mundo de entretenimento rápido, sem fronteiras ou tabus aceitáveis. Partilha-se felicidade em todo o lado. Toda a gente tem uma gargalhada na fotografia que partilha, carreiras desejadas, automóveis exuberantes, status fortes supostos de ter. Toda a gente tem uma festa e uma família unida com palavras dedicadas que nos orgulham de existir. Parece que toda a gente veio com um manual de bons costumes, de práticas a ter para alcançar esta plenitude. Escrevo-lhe hoje sobre tristeza.Escrevo-lhe hoje sobre o que ninguém partilha. Escrevo-lhe hoje sobre o que diariamente convido a sentar-se comigo, frente a frente, num role de emoções e sentimentos muitas vezes longos e guardados a sete chaves porque vivemos tempos de felicidade que não dão espaço à tristeza. Não é cool. Não é suposto! Diariamente vejo o outro lado da felicidade. E não é fácil mas é bonito principalmente no revés da situação. Não é fácil mas necessário exteriorizar, libertar, organizar, elaborar. Entristecer é como estragar um bocadinho para logo logo arranjar melhor. Entristecer é ficar para dentro para depois poder sair para fora. Entristecer é adormecer sem dormir para depois acordar numa vida realmente acordada. Diariamente ouço o sentir desesperado de não ter gargalhadas longas para partilhar, às vezes não ter sequer alguém para partilhar um espaço, um som, um abraço.
E não é fácil entender porque não tivemos este manual de instruções para uma vida que até parece ser banal, afinal, toda a gente parece Ter. No entanto, escrevo-lhe hoje sobre tristeza.A tristeza que é difícil exteriorizar porque não há com quem o fazer. Quem é que a quer receber? A tristeza que existe em nós mas que não é suposto existir e camuflamos em sorrisos rasgados que de tanto forçarmos já nos caracterizam e nos pintam a expressão de um modo automatizado. Mas cuidado! Uma comunicação de que está tudo bem também não permite partilhar o que está desarrumado, desorganizado, desorientado. Partilhar a alegria, apenas e só, fecha as portas à tristeza, aprisionando-a no seu lugar. Dentro de nós! É preciso entender a tristeza. A tristeza também está triste. Uma emoção básica que nos alerta para o lado da perda, que nos puxa para a introspecção, para a elaboração do que não está a funcionar, para analisar o que é de largar e para a resignificação do sentido da vida, das coisas, dos outros, de nós. E é preciso dar espaço ao que não faz sentido. |
AutorO autor por detrás de UM PSICOLOGO é o Dr. João Pedro Lagarelhos, Psicólogo Clínico e Life Coach, Business Coach. Categorias
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