Andar, Correr, Voar

4/8/2020

Porque é que no horizonte mental de quase todos nunca é o destino que está presente mas sim a viagem que nos leva à meta?

Porque o caminho corresponde ao processo de transformação interna.

Porque o processo é sempre melhor que a meta.

Porque no caminho mental estamos em paixão ardente.

Porque no caminho não há espaço para olhar para longe, não há metas alcançáveis a olhares e porque nos centramos no agora que vivemos ali, no caminho.

Porque mesmo que doa, há renovação.

Porque mesmo que custe, há esperança que nos faz andar, continuar a andar, talvez correr e quiçá voar.

Porque no caminho deixamos que a vida aconteça e acreditamos nela.

Andar

A vida sabe o que faz.

É um processo constante de renovação pessoal.

Precisamos apenas de o entender, olha-lo de novos paradigmas, arrumar e libertar.

Aprender a andar.

E andar!

E se a vida sabe o que faz!

Ela que transforma desejos em necessidades reais.

Que transforma caminhos madrastos em lições necessárias, aulas únicas de vidas impensáveis.

Ai se a vida sabe o que faz!

Imprevisível em cada esquina da vida há alimento para continuar a andar e a andar há novas esquinas para conhecer e a andar há novas metas por alcançar e andar há novos mundos para correr e quiçá voar.

É por isso necessário agarrar a vida.
Largar tudo, menos a vida.

É preciso reivindicar a vida, apropriar-se de si, poupar em tudo, menos em si.

E é por isso que importa fazer as malas.

Carrega-las de paixões.

Ir em paixões pegadas sem retornos agendados.

Deixar ir.

Andar e correr!

Correr

Uma vida sem paixão é uma vida penhorada no pó que assentou no lugar de sempre.

A paixão traz preenchimento, traz foco, traz sentido.

Traz gosto, traz força, traz paz.

Apaixonados trazemos para fora o melhor que temos cá dentro.

Apaixonados vivemos o drama com leveza e a leveza é pesada mais tarde ao autopsiar a sorte que é estar vivo nesta vida.

Uma vida pode ter mil paixões e todas elas trazem vida, fazem vidas, são fonte natural de vida.

A paixão é uma violência sentimental de liberdade ilógica e imparcial.

A importância de estarmos em paixão relativa a algo, a alguém e à vida é imensa.

Ajuda-nos a ver, a fazer e a ser.

Mesmo que a vista seja grossa, mesmo que façamos condicionados ao nosso estado de paixão, mesmo que sejamos imparciais apaixonados.

A nossa liberdade começa pela forma como nos vemos, como nos significamos, como nos temos em conta.

A nós próprios!

A validação tem de ser interna, pessoal e intransmissível.

A paixão ajuda a libertar-se, a apropriar-se da vida, da própria vida, nesta vida de paixões que sem paixão não é vivida.

Voar

Sabemos que a vida sabe o que faz quando estamos apaixonados.

Quando andamos nesse estado e paramos de procurar culpados e escrevemos a narrativa da história que queremos.

Nós que construímos narrativas pessoais e procuramos ir atrás delas próprias.

Precisamos de nos apaixonar para escrever narrativas atuais e segui-las, alinhadas à pessoa que somos hoje neste caminho em que andamos, às vezes corremos e quiçá voamos.

Porque é que no horizonte mental de quase todos nunca é o destino que está presente mas sim a viagem que nos leva à meta?